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A sociedade e o tempo: notas sobre Nós que Nos Amávamos Tanto

    Quando escrevi sobre Feios, Sujos e Malvados, também de Ettore Scola, disse que enxergava duas tendências no cinema italiano: 1) sensibilidade, 2) pretensão em compreender a história nacional. Como exemplo do primeiro, citei filmes de De Sica e Tornatore. Do segundo, por sua vez, 1900 de Bertolucci e Amarcord de Fellini. Afirmei ainda que Feios, Sujos e Malvados não se encaixava muito bem nessa classificação. Estando mais próximo, por exemplo, de uma certa tendência do cinema latino-americano. Por fim, ainda relacionei essa pretensão em compreender a própria história nacional com o fato de a Itália ter sido o último país, da Europa ocidental, a conseguir se unificar. E, em Nós que Nos Amávamos Tanto, Scola retoma essa tendência de um modo bem peculiar.

    Basicamente, o filme remonta a história da Itália durante e após a Segunda Guerra pela trajetória dos amigos Gianni, Antonio e Nicola; ao mesmo tempo, porém, também navega pela história do cinema italiano. Uma escolha, nesse caso, que associa o desenvolvimento do cinema nacional com os caminhos tomados pela sociedade. Por exemplo: o que foi o neorrealismo se não uma resposta aos horrores da guerra e às suas consequências em solo italiano? No filme, há cenas de Ladrões de Bicicleta, referências a La Dolce Vita e sua famosa cena na Fontana di Trevi etc.

    Na verdade, Scola transita pelo tempo para demonstrar as mudanças sociais e políticas que marcaram o país durante e após um período específico. Mudanças que deixaram marcas na sociedade, de modo geral, e nas pessoas. Antonio, Gianni e Nicola já não são mais os mesmos. O cinema italiano também não. As imagens de uma Itália destruída pela guerra, marcada pela fome e pela miséria, que foram acionadas por De Sica, por exemplo, deram lugar para o hedonismo discutido por Fellini.

    Dessa forma, Nós que Nos Amávamos Tanto é uma bela viagem no tempo. Uma viagem que demonstra os dramas e as questões pertinentes de épocas distintas. As pessoas fazem a sociedade. E se Heidegger está correto quando relaciona ser e tempo, a sociedade também não pode ser pensada de outro modo. E é isso que Scola demonstra em seu filme.

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